quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A profissão de Físico

“Físicos - Curiosos acima de tudo”

Por: Juliana Godoy - Diario de Pernambuco


Esta é a melhor definição para os físicos. Graduação exige muito conhecimento prévio, dedicação máxima e prazer pela leitura. Carreira está em alta, salários são bons, mas tem vaga que só com pós-doutorado.

Entender como o mundo funciona é o principal motivo de muitos alunos que procuram a graduação em física. Diferente do que a maioria dos estudantes do ensino médio pensa, física não é apenas aquela enxurrada de fórmulas que vimos nas salas de aula. Ela é a principal ferramenta para compreender a natureza e o mundo.

Entrar em um curso superior sobre o assunto exige mais do que identificação do aluno com esses questionamentos. Ele precisa ser apaixonado pelas ciências exatas, conhecer o mundo dos números a fundo e ainda ter uma grande dose de dedicação para encarar o curso, que é bem puxado.

"A física ajuda as pessoas a entenderem como o mundo funciona. Ela vem como uma ferramenta para compreender a natureza", explica o coordenador do curso da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Alexandro Tenório. Ele avisa que para tentar entender isso não basta saber aquelas fórmulas aprendidas no colégio. O estudante precisa ir além. "Ele tem que ter uma forte afinidade com todas as ciências exatas.

Tem que saber muito matemática e física, se não ele não consegue fazer o curso", avisa. No estado, a graduação é oferecida de duas maneiras. O bacharelado e a licenciatura. A diferença delas está no foco de cada uma. Enquanto o bacharel em física é voltado para pesquisas, o estudante licenciado está apto para ser professor de física.

"Mas isso não impede que quem fez bacharelado ensine. Ele só vai precisar fazer um mestrado de ensino ou em alguma área da física", afirma Tenório. O bacharelado é oferecido pela Universidade Federal de Pernambuco, enquanto a licenciatura é dada pela UFRPE e a Universidade Católica de Pernambuco oferece os dois.

Noêmia Patrícia da Silva, 21 anos, está no 5º perído do curso de licenciatura em física e garante: a matéria é muito mais prática do que muita gente pensa. "É uma área muito ampla, dinâmica. Ela lhe dá base para compreender todo tipo de fenômeno da natureza", conta. Mas Noêmia só soube disso quando já estava dentro da faculdade. No colégio ela só viu o básico da disciplina. "Só soube o que era física quando comecei o curso de engenharia elétrica.

Já gostava da área, mas depois de conhecê-la me apaixonei", confessa. Assim como Silva, os alunos que estão na graduação veem muito além da física clássica. Eles aprendem a contemporânea, a moderna e ainda metodologias de ensino. "Eles vão ver desde cadeiras relacionadas à matemática, como estatística, até disciplinas como eletromagnestismo e física nuclear", afirma Alexandro.

E quem está interessado na graduação vale saber: ela é só o começo da carreira. "Depois que você faz um mestrado, um doutorado, o leque de oportunidades se abre muito mais. O aluno de física precisa ter dedicação e foco para seguir bem na carreira", avisa Tenório.

Mas enquanto a hora das pós-graduações não chega, o jeito é se dedicar ao curso superior. "É um curso bem puxado, exige um conhecimento muito grande dos alunos e dedicação quase exclusiva. Quem entra em física tem que estar preparado para trabalhar e gostar muito do que faz", alerta Tenório.

Pós-doutorado, para começar


Significado da física: "minha vida". Se existisse um dicionário feito por profissionais da área, seria assim que o curso e a profissão de físico seriam descritos. Entrar no curso de física não é pensar em vários empregos e nem em muitos trabalhos, mas, sim, em dedicação exclusiva, em uma linha a ser seguida até o ponto mais alto da carreira. Foi assim com o Ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, com seu companheiro no departamento de física da Universidade Federal de Pernambuco Cid Bartolomeu de Araújo, e com quase todos que escolheram o curso.

Dedicação é a palavra de lei para quem entra no departamento de física. Sem ela o aluno não passa no vestibular, não termina o curso e nem consegue seguir com sua carreira. "Não dá para entrar achando que vai ser fácil. É um curso puxado, exige dedicação exclusiva do aluno, porque além das cadeiras ele ainda pode entrar em um projeto de pesquisa", explica o físico e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Cid Bartolomeu de Araújo. Para chegar onde está, Bartolomeu carrega em seu currículo mais do que cursos. Ele traz experiências de vida. Junto com o atual ministro do MCT e outros profissionais, ajudou a fundar o departamento de física da UFPE. "Na época que fiz vestibular não tinha o curso aqui, então nos juntamos e resolvemos trazer a graduação para cá", lembra.

Depois disso, Bartolomeu não parou mais. Fez mestrado e doutorado em física pela PUC e mais um pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. "Para trabalhar com física você precisa se qualificar", avisa Araújo que ainda passou um ano na IBM de Nova Yorque e algum tempo na França. Na entrevista dada ao Guia de Profissões, Cid Bartolomeu dá algumas dicas para quem quer começar na área e explica como anda o mercado atual em física, que em nada lembra o da sua época.

O que o estudante precisa para entrar em física?

De imediato, uma boa formação do colégio e uma boa carga de matemática e física, porque durante o curso vai ser exigido do aluno um alto grau de conhecimento. É fundamental que a pessoa também se identifique com a área e goste bastante, caso contrário, não consegue terminar a graduação. Hoje, apenas 50% dos que entram estão se formando. Então é bom ter consciência de que é um curso puxado, difícil, mas que no final vale a pena para quem gosta do que faz.

Onde um físico pode trabalhar?

Existem várias áreas dentro da física. As principais são de ensino e pesquisa. Dentro delas ainda tem as sub-áreas, que são aplicações da física, física nuclear, teórica. O físico também pode atuar dentro dos laboratórios do governo federal, que são ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Outra área é a de indústrias. Apesar de ser um pouco mais recente, as grandes indústrias já estão contratando físicos para trabalhar com comunicações ópticas, nanociência e nanotecnologia.

Existe algum setor que esteja em crescimento ou que seja uma promessa para o futuro?

Os setores que mais crescem atualmente são o de fotônica, que lida com as propriedades da luz, gerando fontes para iluminação, como leds, lasers. E também o de biofotônica, que usa essas propriedades da luz para estudar os sistemas biológicos.

Como é o mercado de trabalho?

A física é um mercado com grande potencial de expansão. Hoje, temos pouquissímos físicos formados. É uma profissão que você não vai ver pessoas desempregadas por um bom tempo. Isso é, se elas se qualificam, porque para entrar no mercado são muitas as exigências. Em alguns lugares, inclusive, você só entrar se tiver pós-doutorado.

Um mercado onde não faltam vagas ou que faltam profissionais qualificados?

Os dois. Temos quatro universidades públicas aqui. As quatro tiveram concurso recente para físico e poucas pessoas se inscreveram. Isso sem contar com as particulares. Esperávamos mais gente. A física é uma área que permite que o profissional atue emoutros departamentos também. Você não precisa ficar necessariamente dentro do departamento de física. Dá para ir para química, engenharia eletrônica, medicina.

E como é o salário do físico?

Para quem está fazendo doutorado, a bolsa chega a R$ 2,2 mil. Agora o aluno tem que ter dedicação

exclusiva para o curso. Depois que ele termina e investe em seu conhecimento pode ganhar de R$ 10 mil a R$ 15 mil nas universidades federais. Quem trabalha em laboratório pode ter uma renda até maior que isso, e quem ensina e São Paulo também tem salários maiores.

O que você aconselha para quem quer começar?

Só venha se tiver vocação. Na universidade o aluno vai trabalhar bastante, vai ter que se esforçar mesmo. Se não sabe bem o que quer, ou não tem muita certeza, não faça. Porque não vai valer a pena.


Pelo prazer de ser físico

As brincadeiras de infância nos joquinhos de laboratórios científicos renderam muito mais que diversão para Celso Pinto de Melo. Elas lhe mostraram qual seria sua profissão no futuro. Destinado a ser cientista, não importava qual fosse a área, Celso foi em busca de informações que pudessem lhe dizer que curso seguir. Acabou encontrando a física, meio que ao acaso, e não largou mais dela. Cresceu na área, foi até diretor do CNPq em Brasília e hoje é diretor do departamento de física da Universidade Federal de Pernambuco.

Ele não lembra quando, nem onde e nem por quê. Mas Celso só sabe que sempre teve certeza de que seria um cientista."Não tinha muitas informações a respeito do que era trabalhar com ciência, mas já tinha na minha cabeça que era isso que eu queria", conta. A brincadeira que ele sempre fazia quando lhe perguntavam o que ele seria quando crescesse, se tornou realidade. Celso seria um cientista. No ano em que fez vestibular escolheu a engenharia química, mas por apenas um motivo: o bacharelado de física ainda não tinha chegado ao Recife. "Quando estava na metade do curso a graduação de física veio para a UFPE e eu comecei a pagar cadeiras de lá também", lembra. De imediato Melo imendou um mestrado em física também na UFPE e alguns anos depois um doutorado na Universidade da Califórnia, em Santa Barbára, Estados Unidos. "De lá fui para o Fulbrigth Senior Scholar, junto ao Departamento de Ciência de Materiais de Massachusetts Institute of Technology, o MIT, em Cambridge, passar um ano sabático, que é como chamamos o intercâmbio", diz Melo. Tanta identificação imediata com a área de física, Celso só atribui a uma peculiaridade. A curiosidade nata. "Sempre me perguntava o por quê de tudo. Gostava de ler bastante, era muito curioso. E isso é fundamental para um físico", avisa.

Na volta para o Brasil, Celso Melo foi eleito diretor do CNPq em Brasília, um dos maiores órgãos de pesquisas do país. O professor passou três anos na Capital Federal antes de se fixar no departamento de física da UFPE. Onde ele foi coordenador, vice- coordenador, e hoje é diretor do departamento."Aqui montei um grupo de pesquisa em polímetros não convencionais e não sai mais", conta. Mas para chegar até aí ele garante que só existe um meio, que em nada tem a ver com mestrados, doutorados e cursos. É o prazer de ser físico. Sem isso, ninguém da área chega a algum lugar. "Para ser físico tem que ter aquele brilho no olhar de satisfação. Não dá para você fazer o que não gosta", afirma. Para quem está dando os primeiros passos na física, Melo avisa: "O Brasil tem fortes chances de ser um dos países líderes do mundo em ciência e tecnologia. Basta que as pessoas saibam utilizar isso como um instrumento de desenvolvimento", alerta o físico que não se declara um profissional de sucesso, mas, sim, realizado com aquilo que faz.




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